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Ruth Rocha faz 50 anos de carreira e diz: “Harry Potter não é literatura”

Publicado no IG

Aos 84 anos, a premiada autora infantil vai celebrar as bodas de ouro na literatura com três adaptações para o teatro, um documentário e exposição. “Uma família de negros me disse que eu era a escritora que os mostrava. Isto foi muito emocionante”, contou em entrevista ao iG


Antes de começar a escrever, Ruth Rocha, autora de mais de 120 livros infantis, gostava mesmo era de contar histórias para sua filha. Foi ao ouvir um dos contos que inventava na hora para a sua criança — “minha filha falava: ‘agora conta uma história sobre aquele pote’” — que uma amiga, editora da revista “Recreio” nos anos 1960, teve a ideia de pedir um texto para Rocha. “Eu falava que não sabia escrever ficção, mas um dia fui na casa dela, ela me trancou e só me deixou ir embora depois que eu entregasse o texto”, conta rindo em entrevista ao iG.


iG: Você está completando 50 anos de carreira. Acha que a criança mudou muito desde quando você começou a trabalhar, nos anos 1960? Ruth Rocha: Olha, o que eu sei é que o meu livro que mais vende é o “Marcelo, Marmelo, Martelo”, um dos primeiros que eu lancei, em 1969. E até hoje, quando saiu em livro, começou a vender muito. A criança não muda tanto assim. O que mudou muito são os adolescentes. Porque o adolescente é quando se abre o leque da personalidade. E quando são crianças eles são muito parecidos.


iG: Mesmo com a tecnologia? Ruth Rocha: São instrumentos, o iPad, o iPhone são instrumentos para as pessoas agirem. Precisam de mudanças muito profundas. A tecnologia é boa e é ruim. Tecnologia é bom, mas o uso dela precisa ser mediado por uma educação boa. E a educação está meio frouxa. A família não está educando muito, a escola não tem condição. A gente precisa de uma revolução da educação.


iG: O que acha destes novos best-sellers, que misturam fantasia, com a presença de vampiros e bruxas? Ruth Rocha: Isto não é literatura, isto é uma bobagem. É moda, vai passar. Criança deve ler tudo, o que tem vontade, o que gosta, mas eu sei que não é bom. O que eu acho que é literatura é uma expressão do autor, da sua alma, das suas crenças, e cria uma coisa nova. Esta literatura com bruxas é artificial, para seguir o modismo. Acho que o Harry Potter fez sucesso e está todo mundo indo atrás.


iG: Então você não gosta de “Harry Potter”? Ruth Rocha: Não acho errado os livros fazerem sucesso. Eu gosto porque acho que as crianças leem, mas eu não gosto de ler “Harry Potter”, não acho que é literatura.


iG: Qual você acha que é um livro infantil de qualidade? Ruth Rocha: Eu, na verdade, leio muito mais livros para adulta. Todo mundo acha que eu ainda tenho criança dentro de mim [risos], mas na verdade sou adulta, até velha. Mas o ganhador do Jabuti de 2014 [“Breve História de um Pequeno Amor”, de Marina Colasanti] é uma obra muito bonita.


iG: Como você acha que é a melhor forma de incentivar uma criança a ler? Ruth Rocha: A criança tem que ser estimulada. Você tem que conversar com a criança, cantar muito com ela, ensinar versinhos, contar histórias desde que nasce. Porque a leitura é um complexo que compreende de ler, escrever, entender. É importante criar a criança para ler bem. Ter vários livro no alcance da criança. Vejo muita gente comprar um celular para a criança, que custa cerca de R$ 1 mil, mas nunca vi um pai gastar R$ 1 mil em livros. Outra coisa muito importante a ler é o evento. A criança passa muito tempo brincando de ser grande. De ser bombeiro, médico… Elas imitam os adultos, então é importante que em uma casa as pessoas leem, que cultivem a cultura. Agora se ela vai ler mesmo, eu não posso garantir [risos]


iG: Os seus livros fizeram a infância de muitas pessoas. Você já ouviu algum tipo de história que te emocionou? Ruth Rocha: Uma vez uma família de negros que disse que sou a autora que mostra negros em suas histórias e isso foi emocionante para mim. Mas já ouvi muita gente que aprendeu a ler com os meus livros, que agora eles mesmos leem para seus netos… Há 50 anos ouço isso e cada vez eu fico mais emocionada.


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